
Para que tu me oiças, as minhas palavras adelgaçam-se, por vezes como as pegadas das gaivotas nas praias.
Colar, guizo ébrio, para as tuas mãos suaves como as uvas. E olho-as, ao longe, as minhas palavras. Mais que minhas, tuas.
Vão trepando na minha dor como as heras, fugindo da minha guarida obscura. Tu, que tudo preenches. Preenches tudo.
Antes de ti, elas povoaram a solidão que tu ocupas, e estão mais habituadas que tu à minha tristeza. Agora, quero que digam o que tenho para dizer-te, para que tu as oiças como preciso que as oiças.
O vento da angústia ainda, por vezes, as arrasta. Furacões de sonhos ainda, por vezes, as derrubam. Escutas outras vozes na minha voz, agora cheia de dor.
Ama-me companheira, não me abandones. Segue-me. As minhas palavras vão ficando entorpecidas com o teu amor. Tu que ocupas tudo. Tudo o que tu ocupas.
Adaptado de Pablo Neruda